Os Estados Mwenemutapa
Por volta de 1450, o Grande Zimbabwe
foi abandonado pela maior parte dos seus habitantes. O Estado de Muenemutapa é
formado a partir de um movimento migratório do Grande Zimbabwe, dos povos
Caranga-Chona, para a região do vale do Zambeze, na sequência da invasão e
da conquista por exércitos dirigidos por Nhatsimba Mutota,
ocorrida por volta de 1440-1450. Desenvolveu-se entre, os rios Mazoe e Luia, o
centro de um novo Estado chefiado pela dinastia dos Muenemutapa, que dominou e
subordinou a população pré-existente. A capital do império era Dande.
O grosso dos efectivos do grupo
invasor deu origem no vale do Zambeze a uma etnia denominada pelos povos locais
por Makorecore. Constituíram excepção da subordinação os Tonga,
matrilineares porque não falavam a língua Chona. RECAMA (2010:22)
O núcleo central que a dinastia
governava directamente entre, os rios Mazoe e Luia, era circundado por uma
cintura de Estados Vassalos cujas classes dominantes constituídas por parentes
dos Muenemutapas e opor estes a rebelar-se quando o poder central enfraquecia.
Entre os Estados vassalos do Estado de Muenemutapa encontravam-se Sedanda,
Quissanga, Quiteve, Manica, Bárrué e Maungwe. Os seus chefes pagavam
tributo ao Muenemutapa reinante e eram confirmados por este quando subiam ao
poder.
Os Muenemutapas dominaram a sul do
Zambeze até finais do século XVII, perdendo depois a sua posição em favor da
dinastia dos Changamire Dombo, cujo papel no levante armado contra a penetração
mercantil portuguesa.
Nos seus traços mais gerais, a
sociedade Chona caracterizava-se pela coabitação no seu seio de dois níveis
sócio-económicos distintos: de um lado a comunidade aldeã, designada por Musha ou Incube,
relativamente autárcica e estruturada pelas relações de parentesco; do outro
lado a aristocracia dominante (que se confundia com a família que reinava e
esta com o Estado), que controlava o comércio a longa distância e dirigindo a
vida das comunidades.
A comunidade aldeã ( Actividades económicas )
A actividade produtiva essencial das
comunidades aldeãs Chona baseava-se na agricultura. Os principais cereais
cultivados eram aMapira, a mexoeira, o naxemim e
o milho. Ao longo dos rios e sobretudo na zona costeira e solos
aluvionares, cultivava-se oarroz, usualmente para venda. O nível das
forças produtivas ainda era baixo. Nos trabalhos agrícolas utilizavam a enxada
de cabo curto e a agricultura praticava-se sobre queimadas. A pecuária, a
pesca, a caça, bem como o artesanato surgiram como apêndices complementares da
agricultura, submetendo-se aos imperativos do ciclo agrícola.
O trabalho nas minas aparecia como
imposição do exterior (da aristocracia dominante ou de comerciantes
estrangeiros), não fazendo parte integrante da actividade produtiva normal.
Com o decorrer do tempo, a
penetração árabo-persa e portuguesa trouxe novas necessidades (bens de
prestígio), as quais voluntária ou coercivamente levavam a população das
comunidades a praticar a mineração do ouro em escala considerável. O ouro
localizava-se nas regiões como: Chidima, Dande, Butua e Manica
As Mushas que integravam no geral
uma família no sentido lato ou um grupo de famílias com o mesmo antepassado,
o muri, viviam num regime de auto-subsistência e estavam
fundamentalmente orientadas para a produção de valores de uso. Todas as
relações entre os membros da sociedade Chona, ao nível das Mushas, eram
fundadas no parentesco. Acima das Mushas, como entidade superior erguia-se a
aristocracia dominante.
A
religião e o poder Ideológico
Segundo Bica Ismael (2010:77), a
religião e o poder do culto dos antepassados continuaram a ser a base
ideológica do império. Para o exercício do culto existiam existiam os Swikiros,
que afirmam os antepassados e estabelecer a ligação entre os seres vivos e os
mortos.Viviam associados a classe dirigente e eram um dos suportes de seu poder
Aristocracia dominante
Na sociedade Chona, o Estado era
personificado na pessoa do soberano, o Mambo, que devia desligar-se da sua
origem terrena para conferir à realeza, um carácter sagrado. Tornava-se assim o
representante supremo de todas as comunidades, o símbolo da unidade de
interesses dessas comunidades. Para quebrar todas as ligações com a sua
linhagem, e se tornar representante de toda a sociedade, indiferente às
rivalidades familiares, o Mambo cometia no momento da sua entronização, o
incesto com uma parente próxima, infringindo desse modo o mais absoluto
interdito. Daí que a principal mulher do Monomotapa era a sua própria irmã.
A autoridade efectiva do Mambo
processava-se através dos seus subordinados territoriais que integravam um
complexo aparelho de Estado. Esquematicamente a estrutura político
administrativa pode ser representada da seguinte maneira:
Organização
Politica e Administrativa
1. Mambo: chefe supremo.
2.
Mazarira, Inhahanca e
Nambuiza: três principais esposas do soberano com importantes
funções na administração.
3.
Nove altos funcionários: responsáveis pela defesa, comércio, cerimónias
mágico-religiosas, relações exteriores, festas, etc.
4. Fumos ou Encosses: chefes provinciais
5.
Mukuru ou Mwenemusha: chefes das comunidades aldeãs ou das Mushas.
6. As Mushas
O mambo possuía alguns funcionários
subalternos: Mutumes (mensageiros) e os Infices (guarda
pessoal do soberano – Mambo). RECAMA (2006:23)
Há que notar aqui que elegia-se Fumo
a quem tivesse maior riqueza material. Depois que ficara pobre, a comunidade
destituía-o através de uma cerimónia pela qual lhe eram atribuídos certos
símbolos de prestígio (um bordão e um chapéu de palha). O fumo deposto passava
a pertencer ao grupo dos “grandes” por mérito.
Salientar que semelhante controlo
não operava ao nível dos Mambos, geralmente oriundos da aristocracia invasora
descendente de Mutota, na qual a transmissão do poder se fazia por via
hereditária.
Articulação entre a aristocracia dominante e as
comunidades Mushas
A articulação entre a aristocracia
dominante e as comunidades aldeãs encerrava relações de dominação/subordinação
e exploração do homem pelo homem, materializadas pelas obrigações e direitos
que cada uma das partes tinha para com a outra. As comunidades aldeãs (Mushas)
sob direcção dos Mwenemushas, garantiam com o seu trabalho a manutenção e
reprodução da aristocracia dominante e esta concorria para o equilíbrio e
reprodução social de toda a sociedade Shona com o desenvolvimento de inúmeras
actividades não directamente produtivas.
Obrigações das Mushas
– Prestar 7 dias de trabalho mensais
nas machambas do Mambo;
– Construção de casas para os
membros da classe dominante (ZUNDE);
– Mineração do ouro para alimentar o
comércio a longa distância que garantia a importação de produtos para a
sociedade Shona, os quais ascendiam a categoria de bens de prestígio
(missangas, tecidos, louça, porcelana, vidros, etc).
– Pagamento de imposto em primícias
das colheitas (tributo simbólico) e uma parte da produção agrícola (regular);
– Entrega de marfim, peles de
animais e penas de algumas aves;
– Entrega de materiais de construção
de residências da Classe dominante, como pedras, estaca, palha, etc.
Obrigações da Classe dominante
– Orientar as cerimónias da
invocação da Chuva;
– Pedir aos Muzimos reais (espíritos
dos antepassados reais) a fertilidade do solo, o sucesso das colheitas;
– Garantir a segurança das pessoas e
dos seus bens;
– Assegurar a estabilidade política
e militar no território;
– Servir de intermediário fiel entre
os vivos e s mortos;
– Orientar as cerimónias
mágico-religiosas contra as cheias, epidemias e outras calamidades.
Os mambos eram garantes da
fecundidade da terra e depositários da ordem do território e constituíam os
antídotos mais eficazes contra o caos. A sua morte significava a perda da
estabilidade. Quando morria um Mwenemutapa e até a eleição do novo mambo, o
poder era exercido por um personagem que usava o nome de Nevinga. Sem
ser portador de qualquer atributo régio, era morto logo após a eleição de um
mambo de direito.
A eleição do verdadeiro mambo,
constituía motivo de festa porque se acreditava ter a ordem sido reposta com o
importantíssimo papel de mambo vivo, que tamanha admiração e entusiasmo causa
aos seus crédulos adoradores.
Papel das crenças mágico-religiosas ou aparato ideológico
dos Mwenemutapa
As crenças mágico-religiosas sempre
jogaram um papel muito importante para a manutenção do poder e da coesão
social. Praticavam cultos dedicados aos espíritos dos antepassados. Existiam
alguns termos que serviam para designar Deus: Mulungu, utilizado
nas terras marítimas, ao longo do vale do Zambeze e a nordeste do planalto
zimbabueano e Mwari a sul do planalto. Entre os Muzimu mais
temidos eram os dos reis.
Esta prática regular as classes
dominantes do estado dos Muenemutapas e dos estados satélites contactarem
regularmente com os seus Muzimu através de especialistas médiuns designados por
Pondoros ou Mondoros (leões). O Muenemutapa Matope, o segundo da dinastia
declarou que o seu espírito era imortal, esse metamorfoseava num Leão, pelo que
matar um Leão era considerado um crime imperdoável.
Os médiuns (Swikiros)
estavam estreitamente associados ao poder político e especialmente às sucessões.
Deviam conhecer profundamente a História genealógica e na sua maioria eram
estrangeiros, para assegurar imparcialidade em caso de arbitragem nos conflitos
sucessórios. Os Swikiros constituíam os suportes das classes dominantes e estas
as executoras das ordens dos antepassados, mortos em vida e vivos na morte.
Ciclo
do Ouro No estado de Mwenemutapa
Todo esse aparato ideológico
contribuía para assegurar a reprodução social Chona e das desigualdades sociais
existentes. Porém, o poder dos Muenemutapas e dos mambos em geral, não advinha
apenas das rendas e dos tributos que recebiam regularmente. O comércio a longa
distância (ouro) era a outra fonte
do poder dos mambos.
A fixação portuguesa fez-se
inicialmente no litoral, com a fundação da feitoria de Sofala em 1505 e na ilha
de Moçambique em 1507. Esperavam através de Sofala, controlar as vias de
escoamento do ouro e do marfim em pequena escala do interior.
Muito antes da chegada dos
mercadores portugueses em Moçambique, os Swahili-Árabes se encontravam na região,
controlando o ouro vindo do império de Muenemutapa através do rio Zambeze até
aos portos de Quelimane e Angoche. A partir de 1530, os portugueses penetraram
no vale do Zambeze fundando as feitorias de Sena e Tete em 1530 e a do
Quelimane em 1544. Trata-se agora de não controlar as vias de escoamento do
ouro, mas sim do próprio acesso as zonas produtoras do ouro, entrando em
contradição com os Swahili-Árabes.
Na sua penetração, os portugueses
utilizaram a religião cristã católica, organizando assim em 1561 uma expedição
missionária a corte do Mwenemutapa reinante chefiada pelo padre Jesuíta Gonçalo
da Silveira com o objectivo de converter a classe dominante à religião católica
tendo conseguido baptizar o Mwenemutapa e a sua família com o nome de D. Sebastião.
Para os portugueses ter o Muenemutapa e a sua família baptizados serviria de
trampolim para a concretização dos seus planos:
– Marginalizar os mercadores
asiáticos;
– Influenciar as decisões políticas
do imperador em seu benefício;
– Monopolizar o comércio do ouro;
– Promover manobras no sentido de se
alargar o período que os camponeses dedicavam á produção de valores de troca
(ouro) em detrimento da produção de valores de uso e consumo (agricultura).
O padre Gonçalo da Silveira é
acusado de feiticeiro e é morto e como retaliação aos acontecimentos de 1561,
os portugueses enviam uma expedição militar chefiada por Francisco Barreto em
1571 com o objectivo de conquistar as zonas produtoras do ouro e punir o
imperador reinante. Devido a grande coesão no seio da classe dominante e as
doenças tropicais explicam em grande medida a derrota que sofreram.
A primeira década do século XVII,
marcou o início de uma nova era no estado dos Muenemutapas. A classe dominante
encontrava-se envolvida em profundas contradições e lutas intra e
interdinásticas. Gatsi-Lucere, imperador sentindo-se militarmente impotente
para debelar a revolta comandada por Mathuzianye, viu-se obrigado a solicitar o
apoio militar português. Como recompensa, o Muenemutapa reinante prometeu em 1607
a concessão aos portugueses de todas minas do estado.
Com a morte de Lucere, em 1627, o
imperador Capranzina que representava uma facção oposta aos interesses
mercantis portugueses foi deposto e substituído por seu Tio Mavura. Os
portugueses baptizaram Mavura pelo nome de Filipe.
O processo do comprometimento do
novo imperador culminou com a assinatura no mesmo ano (1629) do tratado,
designado por tratado de Mavura que transformou o império num estado vassalo de
Portugal. Por este tratado, a aristocracia de Muenemutapa ficou obrigada a:
– Permitir a livre circulação de
homens e mercadorias isentas de qualquer tributo;
– A obrigatoriedade de o Muenemutapa
consultar o capitão português antes de tomar qualquer decisão importante;
– Não exigir aos funcionários e
mercadores portugueses a observância das regras protocolares quando recebidos
por autoridades e altos dignatários da corte (descalçar os sapatos, tirar o
chapéu, bater palmas, ajoelhar, etc);
– Não obrigar os mercadores
portugueses a pagarem impostos inerentes a sua actividade;
– Aceitar uma força constituída por
50 soldados portugueses na corte;
– Expulsar os mercadores asiáticos
do império;
– Permitir a construção de igrejas
no território.
O imperador com o tratado de
vassalagem deixou de representar e executar a vontade dos antepassados para
agir como um simples intermediário entre os interesses do capital mercantil
português e as comunidades aldeãs. Os camponeses das muchas eram obrigados a
trabalharem mais tempo na mineração do ouro em prejuízo da agricultura. A fome,
as epidemias, a morte de mulheres e crianças nas minas passaram a caracterizar
a sociedade Shona.
O fim da presença portuguesa no
império de Muenemutapa deu-se em 1693 quando Changamire Dombo, chefe de Bútua
levou a cabo a uma expedição militar contra os portugueses, tendo em dois anos
expulsado os portugueses e obrigando-os a atravessar o rio Zambeze e se fixarem
na margem esquerda, marcando assim o fim da fase do ouro e início da fase de
marfim.
Causas da decadência do império de Muenemutapa
– Fixação dos mercadores portugueses
na costa;
– Lutas pela sucessão;
– Falta de um exército permanente;
– A interferência dos estrangeiros,
sobretudo dos portugueses nos assuntos internos do estado;
– Invasão dos Ngunis;
– Alianças dos sucessores dos
Muenemutapa reinante aos portugueses.
Índice
Introducao…………………………………………………………………………………………1
Estado de
Mwenemutapa………………………………………………………………………….2
Actividades
Económicas…………………………………………………………………………..2
Organização sócio-política………………………………………………………………………...3
Papel da
Ideologia…………………………………………………………………………………4
Decadência do
estado……………………………………………………………………………..5
Ciclo do
ouro……………………………………………………………………………………...6
Conclusao…………………………………………………………………………………………7
Referencias
Bibliograficas………………………………………………………………………...8
Introdução
O Presente Trabalho da cadeira de
Historia ira abordar os seguintes temas: Estado de Mwenemutapa, Localização
temporal e espacial do Estado, actividades económicas, organização
sociopolítico, decadência do estado e papel da ideologia dentro do estado de
Mwenemutapa, e o ciclo do ouro. A Pertinência do tema intitulado é de grande
importância para a historia em particular de Moçambique medida em que da uma
visão ampla da sua formação e ideologia. Objectivos específicos são: Conceituar
o estado de Mwenemutapa, Ideologia e caracterizar a formação deste estado e as
Metodologias usadas foram: Métodos de investigação científica e Métodos de
pesquisa Bibliográfica.
Conclusão
Durante o trabalho de Campo Ficou claro que: Por volta de 1450, o
Grande Zimbabwe foi abandonado pela maior parte dos seus habitantes. O Estado
de Muenemutapa é formado a partir de um movimento migratório do Grande
Zimbabwe, dos povos Caranga-Chona, para a região do vale do Zambeze, na
sequência da invasão e da conquista por
exércitos dirigidos por Nhatsimba Mutota, ocorrida por volta de 1440-1450.
Desenvolveu-se entre, os rios Mazoe e Luia, o centro de um novo Estado chefiado
pela dinastia dos Muenemutapa, que dominou e subordinou a população
pré-existente. A capital do império era Dande; que grupo invasor
deu origem no vale do Zambeze a uma etnia denominada pelos povos locais por Makorecore, crenças mágico-religiosas sempre jogaram
um papel muito importante para a manutenção do poder e da coesão social.
Praticavam cultos dedicados aos espíritos dos antepassados. Existiam alguns
termos que serviam para designar Deus: Mulungu, utilizado nas
terras marítimas, ao longo do vale do Zambeze e a nordeste do planalto
zimbabueano e Mwari a sul do planalto. Entre os Muzimu mais
temidos eram os dos reis, (Swikiros) estavam estreitamente
associados ao poder político e especialmente às sucessões. Deviam conhecer
profundamente a História genealógica e na sua maioria eram estrangeiros, para
assegurar imparcialidade em caso de arbitragem nos conflitos sucessórios.
Referencias Bibliográficas
RECAMA, Dionísio Calisto, Historia
de Moçambique, da Africa e Universal, Plural Editores, Maputo, 2006.
Elaborado por denisderio supeia
Trabalho de investigação
de Historia: Estado de Mwenemutapa e o ciclo do ouro
Data;
21/03/2016
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