Professor, historiador, documentalista e activista social.

A minha foto
Adoro e amo o meu trabalho, aliás gosto de tudo o que faço.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Amilcal Cabral Nasceu em Bafatá, no centro da Guiné portuguesa. O pai, Juvenal da Costa Cabral, professor primário e ex-seminarista e a mãe, Iva Pimentel Évora, ambos oriundos de Santiago em Cabo Verde, conheceram-se na Guiné. Após o regresso à terra natal, o casal separa-se, ficando o jovem Amílcar ao cuidado da mãe. Em 1933 foi frequentar a escola primária na Cidade da Praia, tendo em 1944, concluído o ensino secundário no Mindelo, com elevada distinção. Após o seu regresso à Praia, emprega-se como ajudante na Imprensa Nacional, sem no entanto, abandonar a ideia de continuar os estudos. Em 1945, obtém uma bolsa de estudos da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa. Com 21 anos, parte para Portugal onde conclui o curso de engenharia agrónoma, no Instituto Superior de Agronomia. Na sua estadia em Portugal, distinguiu-se como aluno, intelectual, dançarino, desportista e como impulsionador de diversas atividades culturais e políticas, nomeadamente as que desenvolveu na Casa de África, na Casa dos Estudantes do Império e no Centro de Estudos Africanos. É de destacar os vários trabalhos realizados sobre a questão da identidade africana, ou como ele próprio gostava de dizer, sobre a “reafricanização dos espíritos”. Foi precisamente na Casa dos Estudantes do Império, que Amílcar Cabral conheceu outros futuros dirigentes africanos, entre os quais se destacariam os angolanos Agostinho Neto e Mário de Andrade, o são-tomense Francisco José Tenreiro e os moçambicanos Eduardo Mondlane e Marcelino dos Santos, todos eles empenhados na causa da “reafricanização dos espíritos”. Após concluir, uma vez mais, com elevada distinção o curso, regressou à Guiné, onde a 22 de Setembro de 1952, tomou posse do cargo de diretor do Posto Agrícola Experimental de Pessubé, em Bissau. Em agosto de 1953, foi encarregado pelo Governo da Província de “estudar, planear e executar o recenseamento agrícola, cuja realização, lhe deu um profundo conhecimento da sociedade local. As suas preocupações sociais e políticas, levaram-no a envolver-se em diversas movimentações anticolonialistas. Em 1954, esteve na origem da criação da Agremiação Desportiva e Recreativa de Bissau, que entretanto não foi autorizada pelo regime, por ser considerada “suspeita”. Foi aconselhado a abandonar a Guiné em 1955, podendo no entanto visitar a sua mãe uma vez por ano. Decide fixar-se em Lisboa, contudo, numa das suas visitas à Guiné, cria em setembro de 1956, juntamente com Aristides Pereira, Luís Cabral (seu irmão), Júlio Almeida, Fernando Fortes e Eliseu Turpin, o Partido Africano da Independência (PAI) o qual, em outubro de 1960, dará origem ao PAIGC – Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. De regresso a Lisboa, funda, juntamente com outros africanos nacionalistas de Angola e Moçambique, o MAC – Movimento Anti Colonial. Amílcar Cabral dedicou a sua vida à libertação do seu povo e à luta contra o regime colonial português. Foram três a ideias-chave do seu idealismo político: a solidariedade interafricana, a construção de uma sociedade mais justa e liberta da opressão colonial e a unidade da Guiné e Cabo Verde. Em Angola, enquanto trabalhava como engenheiro agrónomo. Até finais de 1959, reside em Lisboa, mas desempenha diversas atividades profissionais em Angola, onde simultaneamente, participa na formação do MPLA. Em janeiro de 1960, abandona definitivamente Lisboa, para liderar a luta de libertação nacional na Guiné, onde a causa da independência ia ganhando adeptos, impulsionada pelo exemplo de países vizinhos, como a Guiné-Conacri, que tinha conquistado a independência dois anos antes. O regime português, fruto da observação de outros movimentos independentistas que tinham levado a bom porto os seus intentos em outros países africanos, atuava com dureza perante qualquer atitude de contestação. O momento mais marcante, ocorreu a 3 de agosto de 1959 em Pidgiguiti, quando as forças fieis ao regime, carregaram violentamente contra uma manifestação de trabalhadores portuários que exigiam melhores condições, e da qual resultaram dezenas de mortos e feridos. Após os acontecimentos de Pidgiguiti, Amílcar Cabral promove a mudança da agitação nacionalista para uma estratégia de libertação nacional, através da mobilização de camponeses, por forma a preparar a luta armada e a instalação do PAIGC em Bissau. Esta “matança”, como foi chamada pelos nacionalistas, marcou definitivamente o rumo do Partido, que um mês depois dos acontecimentos, realizou uma conferência clandestina onde decidiu preparar-se para o início da luta armada. Em 1960, Amílcar Cabral denúncia internacionalmente o colonialismo português e participa na formação de células unitárias de luta, o que faz com que abandone a clandestinidade e se instale definitivamente em Conacri. Em Conacri, com o irmão Luís e Aristides Pereira [su_spacer] Em fevereiro de 1962, o regime português efetua uma série de detenções em Bissau, que conduzem à prisão de centenas de pessoas, entre as quais Rafael Barbosa, o número dois na hierarquia do Partido, o que atrasou algumas ações políticas previstas para a capital A 3 de agosto de 1961, o PAIGC solidariza-se com o MPLA e proclama prematuramente a “ação direta”. Antes de iniciar o confronto armado, o PAIGC enviou várias propostas ao governo português para que este desse oportunidade ao povo da Guiné e Cabo Verde de decidirem livremente o seu destino. A última, em outubro de 1961, exigia o direito à autodeterminação, advertindo que a sua recusa iniciaria a luta armada. A proposta não obteve qualquer resposta, pelo que o conflito de tornou-se inevitável. A fase que antecedeu os combates, teve especial importância para o PAIGC, pois muitos dos seus quadros, preparados clandestinamente em Conacri, passariam clandestinamente a fronteira para irem viver no seio das comunidades locais, onde levaram a cabo um permanente trabalho político. Estes militares, a maioria originários das cidades, foram especialmente formados para compreenderem o pensamento político das comunidades rurais. O seu maior êxito foi junto da etnia balanta, a maior e com mais dispersão geográfica, cujo núcleo principal vivia no Centro da Guiné, em zona altamente florestal e de difícil penetração e com contactos nas fronteiras da Guiné-Conacri e do Senegal. [su_spacer] Cabral e Otto Schacht, na Guiné A 23 de janeiro de 1963, inicia-se no Sul do território, a luta armada de libertação nacional. Durante 1964, conforme refere o comando militar na Guiné, a situação no terreno é “gravíssima” e o PAIGC começa a ser considerado o mais consequente movimento de libertação africano. Em 1966, Amílcar Cabral destaca-se pelo teor da sua intervenção realizada em Havana, na Conferência Tricontinental. Fruto dos grandes avanços militares conquistados pelo PAIGC no terreno, Amílcar Cabral considera a situação guineense comparável à de “um Estado independente, onde os centros urbanos se encontram ocupados por forças estrangeiras”. Contudo, fruto de uma manobra militar encabeçada pelo general Spínola, em que subordina o desenvolvimento socioeconómico das populações, o equilíbrio militar instala-se e sustém-se o ímpeto da ofensiva do PAIGC, obrigando Amílcar Cabral a deslocar a guerra para o plano diplomático. Cabral e a delegação da Tricontinental, Havana, 1966 1970 foi um ano pleno de atividade para Amílcar Cabral. Em fevereiro, desloca-se aos Estados Unidos, onde numa cerimónia de homenagem a Eduardo Mondlane, discursa perante a Comissão de Negócios Estrangeiros do Congresso. Em abril, na URSS, participa nas comemorações do centenário de Lenine e em junho, participa na Conferência Internacional de Apoio aos Povos das Colónias Portuguesas, realizada em Roma, onde também por esta ocasião é recebido em audiência pelo Papa Paulo VI. O ano de 1971 é marcado por várias viagens onde espera apoios para a causa da independência. Visita vários países do bloco comunista, está presente no congresso do Partido Social-Democrata realizado na Suécia, e em agosto, desloca-se a Helsínquia, a Londres e a Dublin. Em 1972 intensifica os contactos em prol da luta de libertação nacional e discursa, a 1 de fevereiro, perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, reunido em Adis Abeba e onde convida uma missão da ONU a visitar as regiões libertadas. A visita viria a ocorrer de 2 a 8 de abril desse mesmo ano. Viria a influenciar decisivamente o reconhecimento internacional do PAIGC como o único e legítimo representante do povo da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Amílcar Cabral com os camaradas, a caminho de Cassacá. Uma vez mais, tenta entrar em conversações com o governo português, ao mesmo tempo que se realizavam, nas regiões libertadas, eleições para uma Assembleia Nacional Popular, cuja finalidade seria a declaração unilateral de independência. Na noite de 20 de janeiro de 1973, uma complexa teia de conspiradores irá assassiná-lo. O seu desaparecimento teria profundas repercussões no futuro do PAIGC, na descolonização portuguesa e na história da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Contudo, não alterou o processo que, como ele mesmo dizia, estava “em andamento”. Portugal viria a reconhecer a independência da Guiné-Bissau a 10 de Setembro de 1974 e Cabo Verde proclamaria a sua soberania a 5 de Julho de 1975. Desderio, Estudante de Historia.